Episódios recentes em Porto Alegre e São Paulo reforçam a necessidade de tornar as grandes cidades mais resilientes
O ano de 2024 foi marcado por eventos catastróficos em grandes cidades brasileiras, relacionados à mudança climática. O que motivou a criação de um novo conjunto de ferramentas para enfrentar os desafios que vem pela frente. Em 27 de abril, Porto Alegre registrou precipitações de 43 milímetros e danificou cerca de 40 mil edificações, incluindo dezenas de estruturas públicas, a exemplo de hospitais e unidades de saúde.
Em outubro, foi a vez de São Paulo viver o caos como consequência direta da combinação entre a transformação do clima e o despreparo para enfrentá-las. O apagão se prolongou por vários dias, causando um prejuízo aos setores de serviços e varejo estimado em mais de R$ 1,6 bilhão pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
“Por ser um país tropical, o Brasil está especialmente sujeito a catástrofes ambientais, cujos efeitos devastadores já estão ocorrendo com frequência e intensidade que estavam sendo previstas pela comunidade científica apenas para a década de 2050″, diz Luiz Campos, sócio-líder de Governo e Infraestrutura da EY no Brasil. Ele acrescenta que, além do impacto humano – mortes, perda de patrimônio e a necessidade de abandonar residências e locais de trabalho –, esses eventos abalam a infraestrutura das grandes cidades, que precisam se preparar para enfrentá-los.
As metrópoles são, ao mesmo tempo, vítimas e causadoras dos males que as afligem. Dois terços do consumo global de energia e mais de 70% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) têm origem nas zonas urbanas do planeta. No Brasil, 87,4% da população reside em áreas urbanas, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em números absolutos, registrou-se um aumento de 16,6 milhões de pessoas morando em áreas urbanas do País entre 2010 e 2022 e um decréscimo de 4,3 milhões vivendo em áreas rurais
“O Brasil demanda estratégias eficazes para minimizar impactos futuros e aumentar a resiliência dos sistemas humano, natural e produtivo. Estamos vendo o custo de adaptação disparar. A ciência já oferece evidências suficientes para impulsionar ações concretas de adaptação e mitigação do aquecimento global”, explica Ricardo Assumpção, sócio-líder de ESG para a América Latina e Chief Sustainability Officer (CSO) da EY Brasil.
Segundo Ricardo, a adaptação eficaz requer uma abordagem holística que combine medidas de curto e longo prazos. “Iniciativas de curto prazo, como sistemas de alerta precoce e evacuação, são essenciais para mitigar os impactos imediatos dos eventos extremos, como deslizamentos, inundações e tempestades”, explica.
“Todos os níveis de governo precisam desenvolver e implantar planos de resiliência climática. No âmbito municipal, isso passa pela revisão, por exemplo, do plano diretor”, ressalta Campos. Ele também ressalta a importância da participação da iniciativa privada nesse esforço, o que só se viabilizará se houver transparência e espírito de colaboração entre o poder público, as agências reguladoras e os operadores privados para determinar e compartilhar os riscos decorrentes da mudança climática. Estima-se que, para o mundo se tornar net zero até 2050, serão necessários investimentos de US$ 139 trilhões em infraestrutura sustentável.
Diante da urgência para equilibrar os pilares econômico, social e ambiental das cidades, é fundamental viabilizar estratégias que explorem todo o potencial dos recursos tecnológicos já disponíveis. “A Inteligência Artificial, por exemplo, certamente terá um papel relevante no desenvolvimento de uma abordagem integrada de enfrentamento desses desafios ao propiciar a observação e a análise dos fenômenos naturais, a identificação de padrões, a otimização dos recursos e o desenvolvimento de modelos preditivos”, descreve o especialista da EY.
Aumentar a resiliência da infraestrutura das cidades em situações de desastres climáticos é parte de um projeto mais amplo de readequação do planejamento urbano para torná-las sustentáveis. No que diz respeito à mobilidade, por exemplo, é preciso desenvolver estratégias para evitar que as cidades parem completamente de funcionar durante enchentes ou outros eventos climáticos. “Isso depende de planejamento e de ações para cumprir esse planejamento. Por exemplo: definir quais serão os corredores expressos de ônibus e instalar sistemas de drenagem mais efetivos nesses corredores”, observa Campos. Outra preocupação é com a infraestrutura social – escolas, hospitais e outros serviços –, que precisam de planos emergenciais para que também continuem funcionando.
“A abordagem desses desafios requer iniciativas integradas, financiamento climático para mitigação, adaptação e uma maior cooperação internacional e interdisciplinar para enfrentar os desafios complexos das mudanças climáticas e garantir um futuro sustentável para todos”, conclui o sócio-líder de Governo e Infraestrutura da EY no Brasil e América Latina.
Fonte: Estadão
Foto: Freepik
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